Friday, January 14, 2005

Na Oprah...

Quem me conhece sabe que eu desde há muito que tenho um interesse pela linguagem gestual e, consequentemente, pela comunidade surda. E há uns dias vi um programa da Oprah que foi muito interessante. O programa falava acerca de um livro que conta a vida de uma pessoa que por ter uma deficiência (não me lembro de qual) não era compreendida pelas pessoas. Pelo que a Oprah disse, esse livro retratava muito bem a solidão das pessoas com algum tipo de deficiência, em relação ao resto da sociedade.
Para o programa ela convidou umas surdas conhecidas para falarem acerca das suas vidas e da sua deficiência. Uma delas tinha sido a primeira Miss EUA surda, e outra foi a primeira actriz surda a ganhar um Óscar.
A Miss EUA (com uma voz meio esquisita) contou acerca do seu novo aparelho, que tinha há uns anos, que lhe permitia ouvir de um ouvido, melhor que todos os outros aparelhos. A Oprah depois perguntou à actriz porque é que ela não tinha posto esse aparelho (que para o qual é preciso uma intervenção cirúrgica). Ela respondeu que estava bem como estava e que pôr esse aparelho iria baralha-la muito. Eu pessoalmente não compreendi como é que o aparelho iria a baralhar. Mas depressa a Miss EUA explicou contanto que, quando pôs o aparelho, ela ouviu pela primeira vez na vida. Ela quando pôs o aparelho já era mãe, e os aparelhos anteriores apenas permitiam que ela ouvisse certas coisas. Depois explicou que ela começou a ouvir sons pela primeira vez na vida que, logo, não sabia de onde vinham. Deu um exemplo em que ela estava no carro com a família quando ouviu um som vindo do banco de trás onde estavam os seus filhos. Ela virou-se de repente para ver o que era e perguntou ao marido que som era aquele. O marido respondeu que tinha sido o John a fungar.
Agora imaginem um mundo em que não sabem de onde vêm os sons. Todos nós temos pequenas experiências diárias em que não sabemos que som é aquele mas sabemos se ele foi um grito humano, ou animal, ou uma queda de algo. Mas neste caso ela não sabia. Não sabia nada. Não sabia distinguir uma queda de um grito.
Foi interessante pensar nisso. Pensar em como a vida das pessoas muda com uma deficiência. E como nos é impossível compreender. Porque não basta tapar os ouvidos para sabermos como vivem os surdos, nem os olhos para sabermos como vivem os cegos. Não somos capazes de compreender uma vida completa com total ausência de cores ou sons.
E provavelmente era mesmo disso que o livro falava. Que por mais que tentemos nunca poderemos compreender.