Friday, May 26, 2006

Publicidade

Já eu e a censura, com a Nês e a Kyo, tivemos essa discussão. A questão que aqui respondo é seguinte: a publicidade cria necessidades ou não?
E que eu acho é que NÃO cria necessidades. O que ela faz é responder às nossas necessidades mais secundárias e egoístas. A ideia errada que as pessoas têm da publicidade vem do facto que, quando vêm um anúncio, por exemplo, dos yogurtes com L.casei imunitass, pensam no quão desnecessário aquilo é... à sobrevivência humana. E pensam que é um abuso tentarem vender-nos algo que nem alimentam propriamente, nem matam a sede mais que a água. (Mas ao mesmo tempo, lembro-vos que 90% dos produtos que temos em casa não nos matam a sede nem nos alimentam.)
O que eu acho é que quando temos dinheiro suficiente (e mais algum) para satisfazer e manter as nossas necessidades básicas, começamos a sentir necessidades mais secundárias. Se temos a possibilidade de ficarmos mais confortáveis do que o que já estamos, vamos tentar ter esse conforto extra. Se temos a possibilidade de nos sentirmos mais saudáveis e bonitos, vamos tentar satisfazer essa necessidade extra. A verdade é a publicidade não tem culpa de o ser humano nunca ficar plenamente satisfeito com o que tem. Se ele tem a possibilidade de aumentar a sua qualidade de vida, ele vai a aumentar. E isso não foi algo criado pela publicidade, mas sim pela natureza humana e por toda a nossa sociedade.
É então nessa insatisfação constante que a publicidade entra, apresentando uma série de produtos/serviços que nos fazem ter (ou sentir) uma qualidade de vida superior.
Quer queiramos, quer não, todos temos água em casa, mas por vezes sentimos a necessidade, ou melhor, o desejo de algo mais fresco, e se possível, mais doce. A publicidade apresenta-nos a coca-cola, nós vemos que ela responde a essa necessidade (ou desejo) secundária, e compramos!
E para além disso, não vamos andar a pensar que a publicidade deixa-nos imunes à nossa própria razão. A publicidade, por mais que tente, nunca consegue convensernos em comprar um producto se não temos uma ponta de necessidade de o ter. A publicidade não está a pegar no nosso braço quando compramos os productos/serviços, teremos sempre o poder de escolha. A publicidade não tem umas leis secretas e eficazes de entrar na nossa cabeça e alienar-nos. Se assim fosse, não haveria coisa como má publicidade e as pessoas estariam a comprar todo e qualquer producto algum vez publicitado, coisa que não acontece. Se têm problemas de consumismo, culpem-se a vocês mesmo por não terem controlo sobre aquilo que desejam, e não à publicidade.
Mas há de facto um problema que envolve a publicidade. Que necessidade sentimos de comprar uns tennis da nike invés dos do continente? Fácil: a necessidade de pertencermos a uma classe social mais elevada, a necessidade de pertencermos a um estilo com o qual nos identificamos (o estilo desportivo e elegante, sexy… neste caso) e que ao mesmo tempo nos identifica perante a sociedade. É uma questão de afirmação. Quem criou essa necessidade de afirmação? A sociedade com todas as suas complexidades! Quem se lembrou dela para ter lucro? A nike. Quem a expandiu? A publicidade. O mal da publicidade (e do design) é que ao usar a “linguagem” da sociedade para ter uma comunicação mais eficaz, está também a reforçar essa mesma “linguagem” por a tornar ainda mais pública. É o que acontece com o ideal de beleza actual. A sociedade viu as modelos como as mais belas e mais chamativas (hormonas), a publicidade utilizou isso e, sem esse propósito, educou as pessoas para verem as modelos como sendo as mais bonitas… É um ciclo vicioso.
Bem, está é a minha opinião. Pronta para ser discutida!

1 Comments:

At 5:13 AM, Blogger Lucas Ferrato Calvo said...

Oi Raquel. Gostei demais do seu texto, é realmente excelente. Você chegou no ponto exato, da nossa luxúria, preciosismo. Por exemplo o porque de um celular que tem tv, rádio, tira foto, brilha e toda aquela parafernalha, se na verdade você só vai usar para telefonar e mais nada, se com certeza todos esses outros itens serão secundários, terceário e por aí vai. Puro preciosismo...e eu como Publicitário digo, nós conseguimos atingir as pessoas aonde elas são mais fracas...STATUS...
Gostei demais do seu texto, parabéns. Se puder visite o meu Blog.

http://duckentertainment.blogspot.com

 

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